quinta-feira, 31 de maio de 2007

Retrato

Duas velas acendi e no meu sótão assombrado iniciei a escrita, as velas grandes e odoriforas, conferem ao meu quarto o ambiente para inspiração, ou talvez não.
Diria antes a fluidez necessária de mão para acompanhar de modo tosco alguns dos meus pensamentos.
Como são lindas as luzes, a forma como se agitam ao ritmo da minha respiração, numa dança profunda de cores, fogo de vida, sombra de morte, ou pior inexistência, peça esta de que sou encenador.
Na parede tenho um quadro, ou melhor um desenho, daqueles feitos por artistas de ruas, de quando tinha seis anos ou por volta disso, tem um defeito numa das orelhas, no entanto os olhos, a graphite, são de tal modo intensos, que me provocam inúmeras sensações, das quais se destaca o medo.
Sinto nele, uma força malevola, tal como o sinto neste mesmo instante em que deitado sobre o tapete, dou as costas à imagem, a fria impressão na espinha.
Calafrio.
Será possível um individuo da suposta razao, adorador da lógica, que nada teme, e nada temeu, temer o seu próprio retrato??
Chego a passar noites em que tapo o retrato, como para impedir o mal de la sair, e me apanhar, pela noite, durante o sono, altura em que retiro de mim, a mascara de perfeição, e que até eu.. sou capaz da expressão inocente de rapaz...
Certa vez o mal estar foi tal que me mudei para a sala, e mesmo assim o sentia dois andares acima observando me.
Será de ele me relembrar da inocência da vida??
Mas como pode uma figura pequena de cara assustadiça, mas de olhar intenso, provocar tamanha comoção, que faz um homem sentir se diminuído, que nem uma criança medrosa...
Espero que seja o mal que resida no retrato, que de algum modo algum demónio la se tenha infiltrado, assim eu teria uma desculpa..
Pois se for um mero debate com a minha subconsciente consciência, então algo esta muito mal...

... e hoje já nao vou dormir..


Terça, 06 Março 2007 às 02:24

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